Durante a gravidez mulheres são encorajadas a manter uma dieta nutritiva e variada, porém, durante o trabalho de parto há anos mulheres são submetidas a dietas restritivas e jejum, essa é uma conduta desatualizada e sem embasamento científico.
Culturalmente pela população geral e por profissionais da saúde foi consolidada a ideia que restringir alimentos e bebidas, permitindo somente o consumo de água, lascas de gelo ou alimentos claros para a pessoa que está parindo é algo normal e saudável.
Entretanto, a restrição alimentar pode ser desagradável nesse momento que exige muita energia e resistência, influenciando negativamente a experiência de trabalho de parto nos aspectos psicológicos e nutricionais.
A prática de restringir alimentos durante o parto se iniciou na década de 40, para prevenir a Síndrome de Mendelson, que era uma pneumonite causada por aspiração gástrica que poderia ocorrer em casos de intervenção cirúrgica que exija anestesia geral. Com os avanços da prática obstétrica e refinamentos de analgesia e anestesia, a validade dessa orientação precisou ser questionada.
A justificativa ainda utilizada para recomendar o jejum das mulheres durante o trabalho de parto é protegê-las da aspiração pulmonar, caso seja necessária anestesia geral em uma cesária de emergência. Porém não há comprovação de que o jejum prolongado no trabalho de parto influencie a incidência de aspiração pulmonar.
Estudos indicam que a experiência de jejuar ou restringir a alimentação durante o trabalho de parto aumenta a percepção pré operatória da situação, o que diminui a naturalidade do almejado parto humanizado.
Um dos motivos para contraindicação da alimentação durante o trabalho de parto é o retardo do esvaziamento gástrico, que é afetado por diversos fatores como dor, estado emocional, anestesia/analgesia, assim como pelo aumento do tamanho do útero na gravidez e pelo hormônio progesterona.
O trabalho de parto pode ser considerado um exercício moderado a intenso do ponto de vista cardiovascular, com aumento do débito cardíaco semelhante ao de atletas competidores.
Apesar do alto consumo energético do parto ser um indício de que seria ideal se alimentar antes e durante o parto, não há regras que definam qual é a melhor escolha para cada gestante.
Sabe-se que o corpo possui mecanismos para restringir a alimentação à medida que o trabalho de parto progride, portanto, a tendência é que sinta fome antes e no início do trabalho de parto, mas não nas fases finais.
Em relação ao tipo de alimento a ser consumido, são preferíveis alimentos fontes de carboidratos (como frutas, por exemplo), que promovem energia rápida ao corpo e favorecem a contração muscular.
Tâmaras são indicadas para aumentar a taxa de dilatação, assim como uma boa hidratação (principalmente por água e sucos) é fator essencial para uma boa nutrição no parto.
Os estudos científicos relatam que se tiverem opção a maioria das mulheres opta por comer e beber durante o trabalho de parto. Portanto, se não há complicações ou riscos, não há motivos para restringir alimentos nesse período e embora a maioria das mulheres opte por comer e beber durante o trabalho de parto, algumas mulheres optam por não fazê-lo e essa escolha deve ser respeitada.
Nutricionista Valkiria Assis
CRN 3 71936/P
Referências:
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