A gestação na adolescência é um problema de saúde pública no Brasil e em outros países do mundo, pelo aumento crescente da sua incidência e da presença de diversas consequências biológicas, sociais e psicológicas. As adolescentes são consideradas vulneráveis em termos nutricionais por diversas razões: demanda aumentada de nutrientes para seu próprio crescimento e o do feto, configurando risco maior para desnutrição; hábitos alimentares inadequados; adoção de dietas emagrecedoras, entre outros fatores de risco.
Adolescentes, em geral, são fisiologicamente imaturas para suportar o estresse da gravidez e o risco é ainda maior quando a gestação acontece em menos de dois anos após a menarca (primeira menstruação). Em comparação com as pessoas mais velhas, adolescentes correm maior risco de resultados adversos da gravidez, incluindo morbidades (por exemplo, eclâmpsia e parto obstruído), natimorto, parto prematuro e condições neonatais graves.
Adolescentes mais jovens (de 10 a 14 anos) têm mais risco que adolescentes mais velhas e as complicações da gravidez são a principal causa de morte de meninas e mulheres de 15 a 19 anos.
Especialmente em países de média e baixa renda, há mais casos de desnutrição, infecções, doenças não transmissíveis, incapacidades e mortalidade relacionados à gestação na adolescência.
Uma pesquisa realizada em uma maternidade de Fortaleza (Ceará), apontou que a maior parte das gestantes adolescentes tinham renda total familiar na faixa de um a três salários mínimos (51,5%), apenas 11,1% das gestantes conseguiram chegar ao ensino médio e 63,6% não estavam estudando no momento da pesquisa.
Sobre o início do pré-natal, somente 20,2% das gestantes o fizeram no primeiro trimestre e a maioria (71,7%), no segundo trimestre. O restante, 8,1%, iniciou o acompanhamento no terceiro trimestre.
Em relação à alimentação, uma dieta baseada em alimentos vegetais, naturais e integrais contendo todos grupos alimentares (frutas, vegetais, cereais, leguminosas, tubérculos, etc) é a recomendação central. Alimentos in natura e minimamente processados são fontes ideais de vitaminas, minerais e fibras que ajudam na regulação de várias reações do organismo, no crescimento e desenvolvimento do feto, devendo ter o consumo frequente durante o período gestacional.
Gestantes adolescentes têm maior necessidade de adicional calórico, a depender do peso pré gestacional. A necessidade de cálcio é aumentada em todas as gestantes, especialmente nas adolescentes, devido a mineralização óssea do feto e reserva para lactação, o que reduz o risco de síndrome hipertensiva e pré-eclâmpsia.
Um estudo apresentou que a suplementação de alguns micronutrientes em gestantes adolescentes de países de baixa e média renda, reduziu a incidência de baixo peso ao nascer, bebês pequenos para a idade gestacional e partos prematuros. A conclusão foi que a suplementação de diferentes micronutrientes é mais efetiva na proteção da saúde de gestantes e crianças em relação à suplementação isolada de ferro e ácido fólico.
Para alcançar o objetivo de desenvolvimento sustentável 3 da ONU, isto é até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos, diferentes políticas públicas precisam ser implementadas e fortalecidas, principalmente às que priorizem a prevenção da gravidez na adolescência (como as de educação sexual), e o atendimento de necessidades psicossociais da pessoa gestante, como a permanência na escola, o apoio da comunidade, da família e do genitor.
A suplementação de micronutrientes pode trazer benefícios adicionais na gestação na adolescência em comparação com a política atual de suplementação de ferro e ácido fólico, assim como o fortalecimento da segurança alimentar e nutricional é essencial para nutrição da população geral e principalmente para as pessoas gestantes que não tem acesso a alimentos in natura e minimamente processados. Além dos cuidados nutricionais, o acolhimento dessas gestantes que passam por situações de alta complexidade fisicamente e psicologicamente, é imprescindível para preservação da saúde da criança e da gestante a fim de mitigar os riscos da gravidez na adolescência.
Nutricionista Valkiria Assis
CRN-3 71936/P
Referências:
Azevedo, V.D. Sampaio, H.A.C. Consumo alimentar de gestantes adolescentes atendidas em serviço de assistência pré-natal. Rev. Nutr. 16 (3). Set 2003. https://doi.org/10.1590/S1415-52732003000300005
Belarmino,G.O. et al. Risco nutricional entre gestantes adolescentes. Acta paul. enferm. 22 (2). 2009. https://doi.org/10.1590/S0103-21002009000200009
Keats EC, Akseer N, Thurairajah P, Cousens S, Bhutta ZA; Global Young Women’s Nutrition Investigators’ Group. Multiple-micronutrient supplementation in pregnant adolescents in low- and middle-income countries: a systematic review and a meta-analysis of individual participant data. Nutr Rev. 2022 Jan 10;80(2):141-156. doi: 10.1093/nutrit/nuab004. PMID: 33846729; PMCID: PMC8754251.
Ministério da Saúde. 01 a 08/02 – Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.
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