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Colesterol alto: genética ou hábito alimentar?

Atualizado: 28 de mar. de 2022



A elevação dos níveis de colesterol no sangue é uma das principais causas de adoecimento da população brasileira e mundial. Há décadas já é constatado pela ciência que colesterol elevado está associado ao aumento do risco de infarto agudo do miocárdio (IAM), doenças arteriais periféricas e acidentes vasculares. Em 2009 o Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que 2,6 milhões de mortes e 29,7 milhões de anos de vida foram perdidos por morte prematura e incapacidades devido a níveis aumentados de colesterol.


Dislipidemias podem ser causadas por fatores genéticos, doenças e estilo de vida (nutrição, escolaridade, classe socioeconômica, atividade física, etc) e são diagnosticadas quando o indivíduo se enquadra em um ou mais dos seguintes critérios: concentrações elevadas de colesterol total (CT), colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e triglicerídeos (TG) ou concentrações baixas de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL).


As lipoproteínas de baixa densidade (LDL), conhecidas popularmente como “colesterol ruim", realizam o transporte de colesterol da circulação para os tecidos periféricos, o que é o principal contribuinte para desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Portanto, reduzir os níveis de colesterol LDL é um alvo terapêutico para prevenção de doenças cardiovasculares.


Um estudo realizado no Brasil publicado em 2021 aponta que a prevalência de LDL elevado atinge cerca de 18% da população adulta, sendo mais comum em pessoas a partir dos 30 anos de idade, menos escolarizadas, do sexo feminino, cor da pele preta ou parda, com sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial ou diabetes.


Pessoas com menor renda e escolaridade têm menor acesso à alimentação baseada em alimentos in natura, vegetais e integrais, isso reflete nos níveis altos de colesterol LDL e no risco aumentado para desenvolvimento de doenças.


Entretanto, hábitos alimentares inadequados não são restritos somente à aqueles que não têm acesso socioeconômico a uma alimentação natural. O aumento de pântanos e desertos alimentares, assim como o crescimento do marketing de ultraprocessados e sua hiper palatabilidade faz com que pessoas com alta escolaridade e poder aquisitivo optem por hábitos alimentares que predispõem o desenvolvimento de doenças.


Estudos científicos indicam que o aumento no consumo de alimentos ricos em fibras - tais como cereais, leguminosas, hortaliças, frutas e tubérculos - e redução de proteína animal, aumenta a excreção fecal de colesterol diminuindo seus níveis no sangue e atuam na expressão de genes do metabolismo lipídico reduzindo a fração LDL.


A microbiota intestinal de pessoas que consomem alimentos de origem vegetal com frequência também colabora para redução da síntese de colesterol através da modulação da enzima HMGCoA.


O consumo de fitoesteróis (encontrado em alimentos de origem vegetal) gera efeito cardiovascular benéfico pois inibe a agregação plaquetária, reduzindo colesterol total e LDL. Estudos indicam que dietas vegetarianas bem planejadas podem ser utilizadas como método não farmacológico de redução da hipercolesterolemia e outras dislipidemias.


Quando comparados com ovolactovegetarianos, veganos apresentaram menor nível de colesterol, o que pode ser explicado pelo aumento no consumo de fibras e redução da ingestão de gordura total e saturada.

Um estudo com apenas quatro semanas mostrou redução de 9% do nível de colesterol total e 4% do nível de LDL em indivíduos adultos que substituíram leite de vaca por bebida vegetal de aveia ou soja, indicando que essa pode ser uma estratégia alimentar interessante no tratamento das dislipidemias.


A recomendação da American Heart Association (AHA), é limitar o consumo de gordura total e saturada (SFA). Os principais alimentos que contém gordura saturada são: carnes, ovos, leite e derivados, coco e derivados, óleo de palma. É indicado preferir gorduras insaturadas, como as encontradas em abacates, amêndoas e outras oleaginosas, azeite e óleos vegetais. Abandonar o álcool e o tabagismo também são passos importantes na melhora das condições de saúde.


Em relação aos fatores genéticos, são raros os casos de mutação, sendo a maioria das dislipidemias causadas por questões comportamentais e fatores metabólicos como a obesidade.


Até mesmo para indivíduos com hipercolesterolemia familiar (HF), que é a doença metabólica hereditária mais comum causada por mutações dos genes envolvidos no catabolismo do colesterol LDL, o tratamento dietético é eficaz na redução dos níveis de colesterol.


O ajuste no teor de gordura da dieta, assim como o aumento da ingestão alimentar de fibra solúvel e alimentos específicos (proteína de soja, esteróis e estanóis vegetais, ácidos graxos ômega-3) são indicados para pacientes com HF que não podem iniciar (crianças e gestantes) ou tolerar terapia hipolipemiante (pacientes intolerantes a estatinas), ou que não desejam fazer tratamento medicamentoso.


A pobreza e a miséria contribuem para mortalidade por todas as causas, incluindo dislipidemias e doenças cardiovasculares. Mais do que educação alimentar e nutricional acerca de mitos sobre as causas da elevação de colesterol, são necessárias políticas públicas que incentivem o consumo e gerem acesso facilitado a alimentos vegetais e naturais.


O hábito alimentar inadequado da família é capaz de gerar dislipidemias, sendo primordial tratar questões comportamentais que levam a escolhas inadequadas. Até mesmo em casos de mutação, a genética não é um fator determinante, sendo a alimentação natural e vegetal uma estratégia efetiva no tratamento das dislipidemias e prevenção de doenças.


Nutricionista Valkiria Assis

CRN-3 71936/P


Referências:


Barkas F, Nomikos T, Liberopoulos E, Panagiotakos D. Diet and Cardiovascular Disease Risk Among Individuals with Familial Hypercholesterolemia: Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients. 2020; 12(8):2436. https://doi.org/10.3390/nu12082436


Hannon, Bridget A et ai. “Contribuições Nutrigenéticas para a Dislipidemia: Um Foco nas Vias Fisiologicamente Relevantes do Metabolismo de Lipídios e Lipoproteínas”. Nutrientes v. 10,10 1404. 2 de outubro de 2018, doi:10.3390/nu10101404


Sá ACMGN et al. Fatores associados ao LDL-Colesterol aumentado na população adulta brasileira: Pesquisa Nacional de Saúde. https://doi.org/10.1590/1413-81232021262.37102020


Slywitch, Eric. Guia de Nutrição Vegana para Adultos da União Vegetariana Internacional (IVU). Departamento de Medicina e Nutrição. 1a edição, IVU, 2022.


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