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Papel da Nutrição nos transtornos mentais

Foto do escritor: Valkiria AssisValkiria Assis

Atualizado: 28 de mar. de 2022



A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 450 milhões de pessoas são afetadas diretamente por transtornos mentais, e aponta que nos próximos 20 anos a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, acometendo mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardiovasculares.


É previsto que os países pobres irão sofrer mais efeitos danosos, visto que possuem menos recursos para tratar transtornos mentais e registram o maior número de casos. Atualmente cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão e 18,6 milhões de ansiedade.


Os transtornos mentais são complexos e não podem ser atribuídos a uma única causa. Os riscos aumentam ou diminuem dependendo de fatores como sexo, gênero, status socioeconômico, apoio social, estresse, uso de álcool e drogas, genética, inflamação, doenças, disfunção endotelial e dieta.


A insegurança alimentar prejudica não só a saúde física, gerando desnutrição e outras condições, como também afeta a saúde mental. O sofrimento experienciado por pessoas em situação de insegurança alimentar pode desencadear ansiedade e depressão. O desespero de não poder alimentar a si e familiares, assim como o estresse gerado por não saber quando e como terá acesso à comida, desencadeia sentimentos de culpa, vergonha, tristeza e impotência.


A desnutrição e a anemia por deficiência de ferro na infância estão associadas a diversos prejuízos cognitivos, gerando um pior desenvolvimento intelectual, comportamental e psicoemocional. Obesidade e desnutrição estão associadas com a regulação de humor e sensibilidade ao estresse, o que indica uma conexão entre o que se come, metabolismo e bem-estar mental.


A alimentação tem efeitos na prevenção e no tratamento de transtornos mentais, pois triptofano, vitamina B6, vitamina B12, ácido fólico, entre outros nutrientes, realizam funções importantes no sistema neuro endócrino e são necessários para a produção de neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina, que estão relacionados com a regulação do humor, apetite e cognição.


Uma alimentação de baixa qualidade pode ser causa ou consequência dos adoecimentos mentais. O bem estar mental envolve práticas de estilo de vida saudáveis (dieta, atividade física e outros cuidados) que reforçam futuras práticas saudáveis, porém quando o indivíduo adoece mentalmente, apresenta muita dificuldade de manter um estilo de vida saudável (mesmo caso tenha acesso), gerando um padrão cíclico vicioso. Por isso é importante procurar auxílio de profissionais capacitados para o tratamento dessas condições, como psicólogos, médicos e nutricionistas.


Estudos indicam que um padrão alimentar consistente baseado em frutas, vegetais, azeite, grãos e oleaginosas, com baixo teor de gordura total e saturada é um pilar importante no tratamento de sintomas depressivos.

Em relação às fontes de carboidrato, deve ser priorizado o consumo de alimentos integrais que são ricos em fibras e atuam como fator protetor. Uma pesquisa apontou que maior ingestão de açúcares adicionados vindos de bebidas e alimentos doces está associada a um maior risco de depressão. No estudo, em comparação com o não consumo, 2 xícaras por dia de bebidas açucaradas aumentaram o risco relativo de depressão em 5% e 3 xícaras por dia aumentaram o risco em 25%. Portanto, esse tipo de alimento deve ser consumido com moderação.


No Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a restrição de alimentos com aditivos alimentares gerou redução dos sintomas, assim como o aporte adequado de vitaminas e minerais através de alimentos naturais tem sido associado à redução de comportamentos agressivos e melhor regulação emocional em crianças com TDAH.


Dietas vegetarianas e veganas se bem planejadas não levam à um risco maior de depressão, entretanto se não houver acompanhamento adequado dos níveis de vitamina B12 no organismo do indivíduo (que deve ser prescrito e orientado por um profissional capacitado), esse pode ser um fator de risco para transtornos depressivos.


Alimentação baseada em vegetais e frutas é importante também na prevenção de doenças cardiovasculares. Visto que ambas condições podem ser desencadeadas por inflamação e disfunção endotelial, é recomendada a redução de gorduras saturadas (encontradas em carnes, azeite de dendê, leite animal e derivados, coco e seus derivados), priorizando o uso rotineiro de gorduras insaturadas como azeite, por exemplo.


O Ômega-3 é encontrado em alguns alimentos (algas, nozes, linhaça, por exemplo) e indicado como parte do padrão alimentar saudável de todos indivíduos. Não há evidências para recomendar os suplementos deste nutriente para prevenção da depressão. Porém se identificada a deficiência desse ácido graxo essencial, ele pode ser suplementado como terapia adjuvante sob orientação profissional, sendo importante investigar outras possíveis carências nutricionais.


O aumento do consumo de alimentos processados, alto consumo de doces e carnes foi associado à ansiedade. Assim como na depressão, é recomendado um padrão alimentar saudável baseado em frutas e vegetais, grãos integrais, nozes, legumes e baixo teor de açúcares adicionados. Se existentes, deficiências nutricionais corrigidas podem levar à melhora de sintomas ansiosos.


O não acesso à alimentos em qualidade adequada, como observado nos desertos e pântanos alimentares, gera deficiências nutricionais que são fator de risco para desenvolvimentos de doenças mentais.


O combate à fome é também tratamento e prevenção de depressão, ansiedade e diversas outras patologias neuropsiquiátricas, não há saúde mental sem segurança de necessidades básicas sendo atendidas (direito adequado à alimentação, educação, saúde, entre outros). Prevenir e gerenciar transtornos depressivos é uma prioridade global de saúde pública e políticas devem ser implementadas no Brasil e no mundo para que menos pessoas sofram mentalmente e fisicamente os efeitos de uma alimentação inadequada.


Nutricionista Valkiria Assis

CRN-3 71936/P


Referências:

Adan RAH, et al. Nutritional psychiatry: Towards improving mental health by what you eat. Eur Neuropsychopharmacol. 2019 Dec;29(12):1321-1332. doi: 10.1016/j.euroneuro.2019.10.011.


Kris-Etherton, Penny M et al. Nutrition and behavioral health disorders: depression and anxiety. Nutrition reviews vol. 79,3 (2021): 247-260. doi:10.1093/nutrit/nuaa025


Pourmotabbed A, et al. Food insecurity and mental health: a systematic review and meta-analysis. Public Health Nutr. 2020 Jul;23(10):1778-1790. doi: 10.1017/S136898001900435X.


SBCM. Depressão será a doença mais comum do mundo em 2030, diz OMS. 2022. https://www.sbcm.org.br/v2/index.php?catid=0&id=1317


UFJF. Janeiro Branco: pesquisadora alerta para os cuidados com a saúde mental. 2022.

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