O documentário Forks Over Knives, lançado em 2011 fala sobre a relação de doenças crônicas não transmissíveis e hábitos alimentares, e como isso impacta na economia dos países e na necessidade de investimento em saúde pública.
Ele alerta sobre o adoecimento precoce da população, trazendo a necessidade de proteção da infância como já discutido em matérias anteriores da Escola de Nutrição.
Ter uma dieta baseada em vegetais sem alto consumo de alimentos de origem animal é uma mudança no estilo de vida que pode ser conduzida aos poucos, por questões comportamentais, para alguns indivíduos, a redução gradual pode ser mais duradoura que a tentativa de mudança drástica.
O nutricionismo é uma interpretação simplista da ciência da nutrição com redução do significado do alimento aos nutrientes contidos nele, um exemplo clássico é quando carnes são vistas como sinônimo de proteína, ignorando todos os outros componentes contidos nesse alimento, e gerando a falsa sensação de que essa seria a única fonte alimentar com tal macronutriente.
Esses conceitos geram confusão pois não comemos proteínas, carboidratos, calorias, gorduras ou vitaminas, e sim alimentos que contém esses nutrientes em proporções variadas.
Alimentos de origem vegetal como leguminosas são tão ricos em proteínas quanto as carnes, portanto essa preocupação da falta de proteínas ou adoecimento gerado pela adesão de uma dieta baseada em plantas, é facilmente refutada na ciência atual.
Esse documentário corrobora com a regra de ouro trazida no Guia Alimentar para População Brasileira: “faça de alimentos in natura e minimamente processados a base de sua alimentação”. Ele também aborda os benefícios de ingerir comidas vegetais, integrais e naturais, vulgo alimentos que você poderia encontrar numa horta, como tratamento de algumas enfermidades, em especial doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Quando for adquirir produtos processados, é importante a leitura de rótulos, pois até mesmo produtos “feitos de plantas” podem ter em sua composição alto teor de aditivos alimentares e poucos vegetais como base. Há brechas regulatórias nas quais a indústria alimentícia usufrui de técnicas de marketing para vender um produto de baixa qualidade nutricional, porém com alegações de benefícios para a saúde que induzem o consumidor ao erro.
Doenças multifatoriais podem ter necessidade de tratamento medicamentoso em conjunto com alimentação equilibrada, prática de atividade física e outras mudanças no estilo de vida. Portanto, pessoas que têm patologias diagnosticadas e tratadas com medicamentos, devem ter acompanhamento de médicos e nutricionistas para avaliar se os remédios não são mais necessários e se essa ruptura pode ser feita. De qualquer modo, é importante ter um olhar crítico sobre o uso de medicamentos como a única intervenção terapêutica possível.
Assim como no documentário The Game Changers, é citado o exemplo de atletas que adotam uma dieta à base de plantas e seu desempenho esportivo. Proteínas não são componentes exclusivos dos alimentos de origem animal, e também não é o único macronutriente que precisa estar equilibrado em uma alimentação saudável, alimentos fonte de carboidrato e lipídios são igualmente necessários para nutrição adequada.
O documentário Let us be heroes (2018) traz reflexões acerca do tipo de comida consumida pela espécie humana, se o adoecimento e a morte precoce fazem parte da vida.
Assim como outros trabalhos discutidos nos textos da Escola de Nutrição , Let us be heroes reforça a relação de doenças cardíacas (maior causa de mortalidade no mundo) com hábitos alimentares.
Os alimentos de origem vegetal são ricos em fibras e antioxidantes, o que não é encontrado numa dieta centralizada em alimentos de origem animal. As Blue zones são locais onde prevalece o consumo de uma dieta baseada em plantas, o que reflete em maior saúde e longevidade da população, que chega aos 100 anos com maior frequência que em outros territórios do globo. O documentário também aborda a extinção de espécies marinhas, mortes de animais para fabricação de produtos não alimentícios (roupas, sapatos, bolsas, etc), preservação dos oceanos e impactos ambientais das escolhas alimentares.
Se preocupar com o futuro das próximas gerações é um compromisso ético da humanidade. A obra defende que é necessária uma mentalidade coletiva, se a Terra tem alimentos e recursos suficientes para alimentar a todos, que padrões alimentares devem ser incentivados para que os recursos não se esgotem e todos tenham segurança alimentar? Faz sentido ter um padrão alimentar que estimula a degradação ambiental e o sofrimento animal? Até que ponto uma alimentação centrada em alimentos de origem animal é sustentável para saúde planetária, animal e humana?
Uma alimentação com menos ou isenta de produtos de origem animal não precisa ser vista como um sacrifício inalcançável, mas sim como uma maneira nova de se alimentar que pode ser tão rica em sabores, variedades, texturas e aromas.
O acesso a alimentos in natura e minimamente processados de origem vegetal é essencial para a soberania alimentar das populações, assim como para a saúde planetária e animal, que afetam diretamente a saúde humana. A redução do consumo de alimentos de origem animal, não por insegurança alimentar mas por consciência socioambiental, tem a tendência de aumentar a longevidade das populações e os marcadores de saúde dos seres humanos.
Nutricionista Valkiria Assis
CRN-3 71936/P
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
Forks over knives. 2011. https://www.forksoverknives.com/
Let us be Heroes. 2018. https://www.letusbeheroes.com/
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