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Propagandas de alimentos, qual o risco para população?

Foto do escritor: Valkiria AssisValkiria Assis


A mídia exerce um papel fundamental na formação de novos hábitos alimentares. Desde a década de 90, a indústria alimentícia vem estimulando através da propaganda o consumo de alimentos para fins especiais. Há um perfil de consumidor que deseja alimentos equilibrados do ponto de vista nutricional, de fácil preparo e sensorialmente atraentes. Com foco nesse público preocupado com a saúde e bem estar, alegações como light, diet, gluten free, entre outras, são utilizadas para aumentar o consumo dessas categorias de alimentos.


Na década de 70 há relatos sobre os impactos da mídia sobre a saúde infantil, que abrangem desde o incentivo ao desmame precoce através de propagandas de fórmulas infantis e mamadeiras, até brinquedos ofertados por grandes redes de fast food. Estudos apontam que as campanhas de marketing focam principalmente em mulheres e crianças. Para o público feminino é proposto um consumo sem culpa com promessas de alcance dos objetivos estéticos e saudáveis.


Outro estudo destaca a influência da propaganda sobre o comportamento infantil, apontando que crianças que passam muitas horas expostas à televisão são mais vulneráveis ao anúncio de alimentos de alta densidade calórica e ultraprocessados (refrigerantes, salgadinhos, balas, etc), além do fato de não estarem praticando atividades físicas, configurando um risco para desenvolvimento de obesidade e sobrepeso.


Nos adolescentes as propagandas focam em produtos milagrosos com resultados imediatos para alcançar um corpo ideal socialmente aceito, portanto é realizado um apelo ao corpo magro e sarado, o que predispõe o desenvolvimento de transtornos alimentares.


A publicidade provoca a necessidade de algo, primeiramente ela induz aos desejos, valores e crenças do consumidor, em seguida produz mensagens que dialoguem com essa ideia alimentando tal expectativa, aumentando a possibilidade de compra de determinado produto e fidelidade de marca.


São necessários parâmetros éticos para que o consumidor tenha de fato ciência do que está comprando, para isso órgãos gestores como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem que minimizar os impactos da publicidade de alimentos sobre os consumidores.


O Decreto-Lei n° 986 de 1969 institui que propagandas de alimentos não podem induzir o consumidor ao erro, equívoco ou engano. A informação clara sobre os malefícios de alimentos ultraprocessados nas embalagens podem reduzir o consumo dos mesmos pelos consumidores, entretanto esse tipo de produto tem um vínculo afetivo forte, o que faz com que pessoas se alimentem mesmo após cientes dos riscos à saúde.


A comunicação utilizada nas propagandas traz imagens que expressam felicidade, vitalidade, disposição, prazer, satisfação, saúde física e mental. O produto tem características de superioridade, credibilidade, confiança, alta qualidade, inovação e benefício à saúde. Também é frequente a ideia de ausência de efeitos colaterais e produtos sem contra-indicações, atribuindo ao alimento uma característica de medicamento.

Os alimentos infantis também têm foco principal nas mulheres, pois a escolha do melhor (mais nutritivo ou que traga mais felicidade) representa maior cuidado com o filho, portanto escolher a melhor marca, a mais completa, a mais gostosa, entre outros atributos, reforçam o significado de amor e carinho pela criança.


Nos anos 50 as propagandas destacavam a robustez do corpo infantil, que era sinônimo de saúde na época, e hoje em dia as apelações se concentram na felicidade, criatividade e inteligência da criança, o que alimenta a ideia de um futuro promissor para a mesma.


Frases como “..um leite com fibras solúveis que ajudam o funcionamento do intestino, ativam o bom humor e elevam o seu astral; o encontro perfeito de sabor com saúde: frutas vermelhas, damasco ou ameixa, com apenas 70 calorias; o que você perde em peso ganha em elogios; garantia de estar bem nutrido de um jeito gostoso e equilibrado” são exemplos de como a indústria alimentícia faz o marketing de seus produtos.


Atualmente grandes redes de supermercados tem atacarejo, barateiam e induzem ao consumo de produtos processados. Promoções do tipo leve 4 pague 3 induzem o cliente a comprar mais que o desejado e dificilmente são feitas com produtos in natura e minimamente processados. Frases como "preços imperdíveis, impossível comer um só" se referem principalmente a bebidas alcoólicas e ultraprocessados.


Na década de 90 propagandas de supermercados anunciavam bom atendimento ao cliente como um diferencial, atualmente esse item nem é mencionado em propagandas, há um movimento de substituição de funcionários de grandes redes por máquinas de autoatendimento e aumento da procura por delivery pelos aplicativos de entrega gerando cada vez mais automação das atividades.


A compra de produtos alimentícios exclui muitas vezes os direitos do consumidor à informação, à saúde e à escolha consciente. A liberdade preconizadapela economia não pode sobrepor esses direitos, o limite não estabelecido gera umconteúdo abusivo que indiretamente gera adoecimento da população, atingindo deforma mais grave mulheres e crianças. O Estado tem o dever de propiciarinformações claras sobre alimentação saudável, e reduzir a exposição de criançasàs propagandas alimentícias, principalmente de fast foods e ultraprocessados.Independente do tipo de alimento, às propagandas se aproveitam devulnerabilidades do sujeito sendo uma ameaça à soberania alimentar no mundo.


Nutricionista Valkiria Assis

CRN-3 71936/P


Referências:


Colombo, T.A. O marketing de alimentos e as crianças. 2020. https://higienealimentar.com.br/o-marketing-de-alimentos-e-as-criancas/



Marins. B.R. et al. A propaganda de alimentos: orientação, ou apenas estímulo ao consumo? Ciênc. saúde coletiva 16 (9), 2011. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011001000023


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