O contato com a natureza é capaz de melhorar diversos pilares de saúde na infância – imunidade, memória, sono, capacidade de aprendizado, sociabilidade, desenvolvimento físico – impactando no bem estar integral das crianças e jovens. Há uma interdependência benéfica nessa relação, crianças e adolescentes precisam da natureza, assim como a natureza precisa deles.
O documentário “O começo da vida 2: Lá fora”, lançado em 2020 e produzido pelo Instituto Alana e pela Maria Farinha Filmes, apresenta a partir de evidências científicas e relatos profundos, como conexões genuínas entre as crianças e a natureza podem revolucionar o nosso futuro, e por outro lado como a falta de contato com a natureza pode contribuir para problemas físicos, mentais e ambientais.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são estratégias propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para melhorar o mundo até 2030, o documentário foca em cinco ODS: saúde e bem estar, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, ações contra a mudança global climática, proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres.
Cada criança que vem ao mundo é uma manifestação da natureza. Nas últimas décadas, os impactos do avanço da urbanização, como o aumento da violência, a poluição, a exposição precoce e excessiva às telas, se configuram como fatores opressivos às crianças, reduzindo o horizonte da infância através da limitação do contato direto com o meio ambiente.
Há um movimento de repensar a estrutura dos centros urbanos visando a inclusão de mais espaços verdes como praças, parques e escolas. O documentário aponta a rede pública municipal de ensino infantil da cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, que diariamente estimula as crianças a terem contato com a natureza, através de espaços externos com árvores e plantas, que são também instrumentos pedagógicos importantes. Estudos apontam que essa experiência aumenta a capacidade de concentração e desempenho intelectual dos escolares.
Outros benefícios da proximidade das crianças com o meio ambiente são o aumento do nível de atividade física, do bem estar mental, do contato com alimentos naturais e do estímulo ao lúdico e à criatividade.
Em 2012, a União Internacional de Conservação da Natureza publicou uma resolução sobre o direito das crianças à natureza, ampliando a discussão sobre o contato com o meio ambiente ser um dos direitos humanos básicos que deve fazer parte da essência da educação infantil.
Negligenciar essa experiência é mais um dos direitos básicos - alimentação, educação, saúde, segurança, etc- que são violados pela pobreza. As áreas verdes das cidades são concentradas nos bairros com maior poder aquisitivo, consequentemente a população mais pobre sofre de forma mais intensa os impactos negativos da urbanização.
O projeto "Navegando nas Artes" é uma iniciativa que promove o acesso de crianças da periferia de São Paulo a navegarem em barco à vela na Represa Billings, com relatos profundos de liberdade pelas crianças que participaram do documentário.
Saber a origem das coisas, incluindo os alimentos, ter contato com a terra, com o plantio e a colheita - praticado em projetos sociais ou hortas urbanas, por exemplo-, traz grandes benefícios à soberania alimentar dos povos.
O começo da vida 2 apresenta com profundidade e firmeza o quanto estar na natureza faz parte da dieta de uma boa infância. Criar gerações futuras cada vez mais desconectadas do mundo natural é um agravo à conservação ambiental. Quanto mais próximas as crianças estiverem da natureza, mais se importarão em cuidar dela, o que implica em cuidar de si mesmo e de um futuro melhor para todos.
Nutricionista Valkiria Assis
CRN-3 71936/P
Referências:
Criança e Natureza. OS BENEFÍCIOS DE BRINCAR AO AR LIVRE. 2022. https://criancaenatureza.org.br/para-que-existimos/os-beneficios-de-brincar-ao-ar-livre/
O começo da vida 2. Maria Farinha Filmes. 2020. https://ocomecodavida2.com.br/
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