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Alimentação, doenças e saúde pública: qual a relação?

Foto do escritor: Valkiria AssisValkiria Assis

“Fed Up”, um documentário lançado em 2014, aponta uma epidemia onde há mais pessoas obesas do que desnutridas, e o impacto do hábito alimentar familiar nesse contexto.

A obesidade é acompanhada de um estigma social, principalmente entre os mais jovens, onde é propagada que a culpa por ser gordo é sempre do indivíduo e não do contexto no qual ele está inserido.


Comer menos e fazer mais exercícios é vendido como uma fórmula simples de emagrecimento. Entretanto, há outros fatores que influenciam o nível de atividade física e os hábitos alimentares, a indústria da propaganda apela para produtos cada vez menos saudáveis e a produção de ultraprocessados é cada vez mais intensa.


É mais barato comer produtos processados, o adoecimento infantil por obesidade e doenças cardiovasculares é uma das consequências do consumo excessivo desse tipo de alimentação.


Essa é uma questão de saúde pública recente, na década de 70 foi registrado um aumento no custo de tratamentos médicos associados ao aumento do consumo de gordura, carne e açúcar. Ao longo dos anos a indústria trocou a gordura pelo açúcar como ingrediente principal e o agronegócio passou a produzir insumos para os aditivos alimentares.


A defesa do acesso a uma alimentação vegetal, integral e natural para todos precisa ser um dos maiores focos de saúde pública e medicina preventiva. "Sicko, SOS Saúde" (2007), do diretor estadunidense Michael Moore, é um documentário que fala sobre o contexto dos planos de saúde no território americano, abordando como é a vida de indivíduos com e sem plano de saúde. Devido aos altos custos e negação de certos procedimentos pelos planos de saúde, taxas e cobranças extras, medicamentos caros, muitas pessoas morrem por falta de acesso ao sistema de saúde da rede privada e pública.

O documentário aponta como planos de saúde dos Estados Unidos têm taxas percentuais de recusa a serem alcançadas, portanto independente do quadro, até mesmo um transporte de ambulância pode ser negado por justificativas de IMC fora da eutrofia ou indisponibilidade do serviço.


O tratamento de doenças graves como câncer é mais custoso, portanto um dos cuidados mais negligenciados, pois se tratados adequadamente poderiam diminuir o lucro da indústria de planos de saúde.

Saúde para todos não é um interesse político dos Estados Unidos, que apoia planos de saúde que tem por objetivo sempre maximizar os lucros, independente se pessoas morrem por procedimentos negados.


O documento também aborda como movimentos populares deram origem aos sistemas únicos de saúde em países referências como Canadá e Cuba, que focam na medicina preventiva e tem baixo custo de tratamento por pessoa pelo menor nível de complexidade.


O Brasil se espelhar no sistema de saúde dos Estados Unidos é um erro grave, recentemente com a decisão do STJ, planos de saúde passam a cobrir apenas os tratamentos que estão na lista da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que prejudica inúmeras pessoas que dependem dos planos de saúde para tratamento de doenças.


O SUS brasileiro é o único sistema de saúde pública do mundo que atende mais de 190 milhões de pessoas. Ele foi originado a partir da pressão dos movimentos civis e sociais na década de 80, que fez com que a Constituição Federal de 1988 dedicasse um capítulo inteiro à saúde, prevendo que ela deveria ser universal, gratuita e de acesso igualitário a todos. Há 31 anos o SUS é um dos maiores patrimônios da população brasileira e o principal aliado da sociedade no enfrentamento à Covid-19 e outras emergências em saúde pública, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país.


Todos os brasileiros utilizam, já utilizaram ou vão utilizar o SUS em algum momento de suas vidas, sendo que cerca de 80% da população depende exclusivamente dele. O SUS está presente na vacinação no posto de saúde; na produção das vacinas; na visita do agente comunitário; na vigilância sanitária que fiscaliza o açougue, o supermercado e o restaurante; na academia ao ar livre da pracinha; na ambulância do SAMU que atende o acidente ou emergência; na consulta com o médico generalista ou com o especialista; nos exames; na cirurgia de transplante; na oferta de medicamentos, inclusive os de alto custo; na hemodiálise; nos cuidados de reabilitação; nos atendimentos de pessoas com doenças raras, no acompanhamento dos processos de mudança de sexo, redução de estômago e tratamentos oncológicos.


Apesar de ser o maior sistema de saúde do mundo, o SUS brasileiro é um dos que recebem menor nível de investimento e por isso seu funcionamento fica prejudicado.


Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a “Saúde é direito de todos e dever do Estado”, portanto o investimento em saúde pública assim como em segurança alimentar, é um direito constitucional que não pode ser violado e deve ser exigido pela população aos seus representantes políticos.


Nutricionista Valkiria Assis

CRN-3 71936/P


Referências:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema Único de Saúde (SUS): estrutura, princípios e como funciona. 2020.


UNASUS. Maior sistema público de saúde do mundo, o SUS completa 31 anos. 2021.


Senado. Decisão do STJ une Senado contra limitação de tratamentos em planos de saúde. 2022.


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