
A depressão pós-parto (DPP) é o transtorno de humor mais prevalente associado ao parto, que pode afetar mulheres, crianças, homens e todo núcleo familiar. Nenhuma causa única de DPP foi identificada, porém, deficiências nutricionais causadas ou intensificadas pelas altas necessidades nutricionais na gestação, podem influenciar no surgimento ou agravamento de sintomas depressivos.
A coexistência de deficiências nutricionais que são comuns durante a gravidez e um ano após o parto com o número de casos de depressão materna atingindo muitas mulheres nesse mesmo período, fez pesquisadores investigarem mais a fundo a ligação da nutrição com a DPP, já que certos nutrientes possuem ação na função de neurotransmissores.
A relação entre dieta e depressão pós parto é incerta, entretanto três intervenções nutricionais têm sido estudadas como estratégias de prevenção e tratamento da DPP, são elas: ácidos graxos ômega-3, vitamina D e alimentação.
Sobre o ômega 3, estudos científicos sugerem que a suplementação com esse ácido graxo durante a gravidez e o pós parto reduz alguns sintomas associados à depressão.
Em mulheres com risco de depressão, níveis baixos de vitamina D no início da gravidez estão associados a maiores escores de sintomas depressivos no início e no final da gravidez. Para todas as pessoas, mas principalmente para as gestantes, é recomendado manter níveis séricos adequados de vitamina D durante todo pré natal e período pós parto.
Os estudos trazem uma associação entre má nutrição e depressão materna. A insegurança alimentar e nutricional, isto é, não ter acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequada é um fator de risco importante para DPP.
Anemia e violência por parceiro íntimo, também foram fatores associados aos sintomas depressivos. Por outro lado, a segurança alimentar, um bom apoio social de amigos, familiares e cônjuge reduzem o risco de sintomas depressivos pré-natais.
Os estudos recomendam intervenções dietéticas e políticas de segurança alimentar e nutricional como formas custo-efetivas de reduzir deficiências e melhorar problemas de saúde mental para gestantes e puérperas.
Além disso, é recomendado que profissionais da saúde estejam atentos aos sinais e sintomas de depressão pós parto, devendo integrar a relação da depressão materna com a ingestão alimentar e possíveis deficiências nutricionais.
Os estudos indicaram que deficiências de folato, vitamina B12, cálcio, ferro, selênio, zinco e ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) estão associadas à depressão, sendo importante avaliar tais nutrientes por análise de exames, investigação clínica e dietética por nutricionista.
Portanto, apesar da depressão pós parto ter causa multifatorial, dieta e suplementação (caso necessário), configuram a nutrição como um fator de risco modificável na prevenção e tratamento de DPP. Programas de apoio para reduzir o sofrimento materno e políticas voltadas para a redução da insegurança alimentar domiciliar, anemia materna e violência por parceiro íntimo durante a gravidez podem ajudar a reduzir a depressão.
Nutricionista Valkiria Assis
CRN-3 71936/P
Referências
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